sábado, 12 de dezembro de 2009

Pertubador Racismo


O assunto não é dos mais agradáveis, a sociedade prefere abertamente deixá-lo embaixo do tapete, o governo se restringe a aconselhar: “não seja racista”. Ninguém se atreve a pesquisar sobre o assunto, é feio questionar as origens das nossas falhas mais grotescas, o homem é perfeito e pronto, feito a semelhança de Deus, cortesia do cristianismo. Na verdade as pessoas gostam de serem diferentes uma das outras, ou até melhores do que o resto às vezes. Mas esse costume reiterado é aproveitado por líderes, levando às vezes a sociedade ao desastre do holocausto, a cremação de milhares de pessoas consideradas diferentes.

O racismo é causado por fatores internos subjetivos, que nascem da vontade natural do homem e por motivos externos objetivos, que são desenvolvidos e absorvidos por ele. O motivo subjetivo (interno) e o mais importante, sendo talvez, a raiz real (mas não destruidora) do racismo, é a vontade natural humana em se diferenciar, essa característica se encontra no desejo de classificar as coisas, o homem rotula tudo o que vê a fim de atingir uma maior praticidade no conhecimento do meio e da própria realidade, isso se dá inocentemente sem nenhuma intenção de discriminação. Mas pela lógica a atividade de diferenciar as coisas obriga o homem a se diferenciar dos animais e por fim, do próprio homem, ele não se aceita como coisa, como animal e por fim como igual, ele começa a se vê como uma criatura única, diferente das demais. É a fórmula perfeita para o nascimento da desigualdade, o embrião do racismo, o homem agora adere à idéia confortável de superioridade, se ele é diferente porque não pode ser melhor? O que nos leva ao motivo objetivo (externo) do racismo: A busca pelo poder. O desejo de poder não é natural a todos os homens, mas sim a um pequeno grupo de seres humanos (Todos querem ser diferentes, mas nem todos querem ser melhores). Para ficar mais claro essa afirmação é só aceitar que o poder não é necessariamente riqueza, e sim conseqüência ou causa dela, poder é controle. Todos os humanos querem riqueza e conforto, não só para si, mas para ostentar e ver a própria superioridade nas reações alheias, por outro lado o poder é restrito a um grupo que deseja dominar o resto. Como exemplo explicativo, vemos as seguintes situações: Um mundo igualitário financeiramente e um politicamente. Se por acaso a riqueza fosse distribuída igualmente na sociedade ela ainda existiria bem distribuída, mas se o poder fosse repartido igualmente ele deixaria de existir, só um individuo é necessário para que ele exista, nesse caso, absoluto. Portanto a busca pelo poder é externa e não natural do homem, ele aprende a querer dominar outros, esta característica pode aparecer ou não, por outro lado o homem nasce querendo ser melhor do que outros por vaidade (elemento subjetivo). Na característica objetiva, os homens se diferenciam também por estratégia, pois é mais fácil disseminar a idéia que um grupo pequeno é superior a um grupo grande, este trabalhará para sustentar a autoridade do primeiro. Os dois elementos, interno e externo, se unem na sociedade. A desigualdade natural e leve acaba sendo útil, maximizada e estimulada na busca pelo poder de grupos pequenos, ou seja, o instinto individualista de interiorização e valorização do Ego utilizado pela natureza para sobrevivência é deturpado pelo Estado.

Existe uma linha de pensamento na psicologia chamada “teoria da mente”, ela fala que nós nos identificamos com o outro como igual e passamos a ajudar todos que consideramos “parte da família”. Outro impulso natural do homem que merece ser citado é a modificação pelo costume, ele muda a natureza das ações com facilidade. Em toda a história líderes representantes das elites informaram a massa sobre a inferioridade de outros grupos, o povo aceitou a idéia prontamente e passaram a serem violentos com outros humanos quando estes passaram a serem encarados como seres de segunda categoria ou até animais, como se percebe hoje o comportamento do homem com os não-humanos não é o mais louvável. Inclusive quanto mais distante os animais são dos humanos, mais eles são encarados como objetos, o macaco, o cachorro, o elefante, o golfinho, mamíferos sociais com afetividade coletiva têm mais afinidade conosco, já a aranha, a barata, um grilo, uma formiga¹, insetos, aracnídeos ou répteis distantes evolutivamente de nós e sem qualquer relação social afetiva, são facilmente esmagados pelos nossos sapatos sem qualquer remorso da nossa parte. Quando Hitler decidiu governar, ele se aproveitou de todos os elementos causadores do racismo encontrados na Alemanha e adjacências. O povo estava se sentindo humilhado e inferior e precisava ouvir que era superior, ele só precisou falar fervorosamente convincente, eles nem perceberam que o líder era baixo, de cabelo preto, com nariz grande e sem qualquer semelhança com o biótipo ariano defendido por ele. Adolf não foi o único que fez isso, todos os governantes falam para seus súditos que eles são superiores a outros grupos. Quando Lula falou que é brasileiro e não desiste nunca, ele falava que era metalúrgico, pobre, brasileiro e possui capacidade para chagar a presidência da República, todos que são como ele podem vencer por que são capazes, são brasileiros, mesmo pobres. Assim, atingi a auto-estima da grande massa que começa a ver nele um espelho da própria desgraça e esperança, são votos fáceis. Os estadunidenses são mestres nisso, porque ninguém mais do que eles precisa do elemento objetivo para manter o poder, eles não só precisam ouvir que são bons, mas que são muito melhores do que o mundo. As religiões também necessitam disso, todas falam direta ou indiretamente que outras doutrinas estão erradas ou podem até ser malignas, não por acaso as religiões se incorporaram aos Estados contra outras religiões pertencentes a outros Estados, houve momentos da história em que ficou difícil entender de quem era a guerra, dos Estados ou das religiões.

A defesa da raça sempre esteve presente nas grandes doutrinas religiosas ocidentais, no cristianismo, no judaísmo e no islamismo, hoje felizmente tais idéias não podem ser ditas graças à globalização, à destruição parcial das fronteiras e a uma maior convivência entre povos nos mesmos territórios. Se o Papa falasse hoje que os índios e negros não tem alma, Vossa Santidade iria ter a maior debandada de fiéis da história do Vaticano. O homem precisa se conhecer, aceitar que é falho, não é perfeito. Não passamos de animais buscando a perfeição, aliás, é isso que nos diferencia do resto dos animais. Mas, para buscarmos a perfeição a observação dos erros é essencial. Em toda história o nosso maior triunfo é a busca pela Democracia, a igualdade é o começo da erradicação completa do racismo, seria um movimento inverso, o Estado iria influenciar na nossa imperfeição de desigualdade e ela deixaria de ser desejada por nós. Até o sentimento de superioridade dá pra ser domado pelo governo, já ficou claro que a humanidade é melhor quando está unida trabalhando para a superação. Massacres aconteceram na Alemanha nazista, na União Soviética, há pouco tempo em Gaza, em Abu Graibi, aqui perto nas favelas do Rio de Janeiro, podem até estar acontecendo agora. É coisa nossa não dá para negar, enquanto o homem for desigual, o racismo estará pairando nas nossas mentes, esperando alguém ordenar o próximo genocídio.


¹ As formigas têm uma sociedade sem afeto, como as abelhas sua organização se parece com uma empresa, todos possuem sua função mas sem, por exemplo, o instinto materno. Alguns tipos de peixes são outros animais sociáveis mais sem afeto, formam cardumes sem afetividade exclusivamente para se defenderem de predadores.

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